Entrevista a Christopher Fonseca

Só os comunistas podem dar resposta<br> aos problemas do povo

Isabel Araújo Branco

Ch­ris­topher Fon­seca, membro do Con­selho Na­ci­onal do Par­tido Co­mu­nista da Índia e se­cre­tário-geral do Con­gresso dos Sin­di­catos de Toda a Índia (AITUC) em Goa, es­teve na Festa do Avante!. Em de­cla­ra­ções ao nosso jornal, este di­ri­gente da AITUC – a mais an­tiga das fe­de­ra­ções sin­di­cais na Índia (foi fun­dada em 1920) e uma das cinco mai­ores do país, com 3,6 mi­lhões de mem­bros, desde sempre com fortes li­ga­ções ao Par­tido Co­mu­nista da Índia – ma­ni­festa a sua con­vicção de que as forças de es­querda, apesar dos maus re­sul­tados ob­tidos nas úl­timas elei­ções, vão con­se­guir re­forçar a sua uni­dade e de­sem­pe­nhar um papel de­ter­mi­nante no país.

Os elei­tores vo­taram BJP, Bha­ra­tiya Ja­nata Party, mas isso não sig­ni­fica que apoiem a sua po­lí­tica. O que su­cede é que es­tavam fartos das po­lí­ticas do an­te­rior go­verno do Par­tido do Con­gresso, que era cor­rupto, in­capaz e go­ver­nava há muitos anos

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Qual é ac­tu­al­mente a si­tu­ação dos co­mu­nistas na Índia? É pe­ri­goso ser um co­mu­nista na Índia nos dias de hoje?

Hoje em dia a si­tu­ação dos co­mu­nistas na Índia não é muito boa. Nas úl­timas elei­ções ge­rais, as pes­soas não nos deram um man­dato em termos do nú­mero de de­pu­tados no Par­la­mento. No 14.º Par­la­mento havia cerca de 60 de­pu­tados de par­tidos co­mu­nistas e de es­querda, mais de 10% dos de­pu­tados do Par­la­mento. Nas 16.ªs elei­ções par­la­men­tares [re­a­li­zadas de 7 de Abril a 12 de Maio deste ano] há apenas 12 de­pu­tados co­mu­nistas e de es­querda no Par­la­mento. Houve um certo iso­la­mento dos par­tidos de es­querda e o apa­re­ci­mento da di­reita, o mo­vi­mento Hin­dutva [mo­vi­mento que ad­voga o na­ci­o­na­lismo hindu], uma es­pécie de par­tido [O BJP – que em por­tu­guês sig­ni­fica Par­tido do Povo In­diano –, li­de­rado por Na­rendra Modi], que ins­tru­men­ta­li­zando as ques­tões so­ciais, com um dis­curso com um certo «re­a­lismo», foi mai­o­ri­ta­ri­a­mente es­co­lhido pelo povo. E com 31% dos votos ob­teve 52% dos lu­gares no Par­la­mento. É de sa­li­entar que o par­tido foi le­vado ao colo pelas grandes em­presas e cor­po­ra­ções, que agora estão con­tentes porque os co­mu­nistas per­deram lu­gares de que dis­pu­nham no Par­la­mento e estão en­fra­que­cidos. Isto deu origem ao res­sur­gi­mento da po­lí­tica de di­reita e também da agenda do grande ca­pital e das cor­po­ra­ções e ainda das forças anti-laicas. Qual­quer tipo de fa­na­tismo re­li­gioso é mau. Nós não somos contra a re­li­gião, mas con­si­de­ramos os sec­ta­rismos re­li­gi­osos muito pe­ri­gosos.

 

Isso quer dizer que a re­li­gião tem um grande peso no país?

Nós somos uma nação que é al­ta­mente laica, de­mo­crá­tica. Com um total de 1200 mi­lhões de pes­soas, 2/​3 da nossa po­pu­lação é jovem, isto é, tem menos de 35 anos, uma po­pu­lação muito jovem em termos mun­diais. Por­tanto, somos uma nação aben­çoada, não só pela ju­ven­tude, mas também porque o nosso povo é ar­den­te­mente laico. An­seia pela paz, pela li­ber­dade, pela equi­dade.

 

E quais são as pers­pec­tivas de fu­turo?

Os elei­tores vo­taram BJP, Bha­ra­tiya Ja­nata Party, mas isso não sig­ni­fica que apoiem a sua po­lí­tica. O que su­cede é que es­tavam fartos das po­lí­ticas do an­te­rior go­verno do Par­tido do Con­gresso, que era cor­rupto, in­capaz e go­ver­nava há muitos anos. As pes­soas vo­taram nesse par­tido e, de certa forma, não deram um man­dato aos par­tidos de es­querda. Mas a es­querda tem uma forte base de apoio; tem uma base muito, muito grande e uma enorme fi­li­ação. Toda a es­querda em con­junto tem uma fi­li­ação de mais de quatro mi­lhões de pes­soas e estou certo de que nos pró­ximos anos a es­querda vai juntar-se, vai unir-se e será uma força a ter em conta. Porque os pro­blemas do povo, no­me­a­da­mente com as po­lí­ticas ne­o­li­be­rais, as po­lí­ticas do FMI, do Banco Asiá­tico e ou­tros, não serão re­sol­vidos, o go­verno não será capaz de lutar contra o de­sem­prego, no­me­a­da­mente o de­sem­prego jovem, contra o au­mento dos preços que vai aos bolsos do povo, não será capaz de conter os im­pe­ri­a­listas, não será capaz de se afastar da cor­rida aos ar­ma­mentos. Por­tanto, não re­sol­verá todos estes pro­blemas do povo, prin­ci­pal­mente as ques­tões da dis­tri­buição da terra, do meio am­bi­ente e também os di­reitos das mu­lheres, das cri­anças e dos tra­ba­lha­dores. Todos estes pro­blemas só podem ser re­sol­vidos com um par­tido po­pular for­te­mente em­pe­nhado, isto é, com os co­mu­nistas.

 



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